segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

AUTO-DIALÉTICO

Não há hiatos na poesia.


Ela não estagna, flutua, a procurar

porto inseguro.

Onde o incerto seja o desafio,

fora das linhas retas.

A poesia, a paixão, o desejo

não sobrevivem a redes de proteção.



Javier Fuentes.

EN-CONTRASTE

“A refutar verdades, as inevitabilidades


Na cautela insuspeita da ausência

A resposta revirada na gaveta vazia

De um armário ainda transbordante

Lida em voz alta, fez silêncio ensurdecedor

Dos contrastes simétricos, o encaixe como um nó

Ali, no exato espaço invisível, era um sopro

Não era mais uma resposta

De repente, no hiato, era uma pergunta

Das que se bastam sem a dúvida, entre.”

Javier Fuentes

SEXTA FEIRA

“Nem a imposição da vida urbana,


Vai me fazer abrir a porta para ela

Não quero ser igual

Mas também não quero ser notado pela minha diferença

Só quero que Ela não me veja

E escolha outras vítimas

Tantas que voluntariamente a ela se indicam

Não, não eu

Não me indico,

Nem me apresento

Fujo, escamoteio, falseio

Aqui não há portas encostadas

Só há portas trancadas,

Cadeados, ferrolhos, móveis atrás

Sei que sua presença é normal

Mas não aqui do meu lado

Sorrio. Ando a sorrir. Canto a sorrir.

Tropeço e sorrio

Não que, por isso, a tristeza não me veja

É que, sorrindo, ela pensa que sou miragem”




Javier Fuentes, 09/09

SEGUNDO

“Não estava ali


Porque ali estavam as respostas.

E, por elas, não me movimento

São as dúvidas que impulsionam

Não estou no fim ou no início

Sempre entre.

Apesar do entretanto

Eu não estava ali

Entre tantos caminhos a seguir

Escolhi, ao acaso mal intencionado,

Um.

Por onde eu não estivesse

Ao lado das certezas”




Javier Fuentes

"...Caminhos...

Olhos fechados


Respostas sussurradas

Nascidas da pele

Ouvidas pelo toque das mãos

Respostas retas, diretas, cortantes...

O que era curva, agora é círculo

O desafio das canções mais íntimas

Faladas, não pensadas

Expostas contra a vontade

A esterilizar o espinho

Quem ousaria cometer esse desatino ?

Calmo caminho difícil de andar..

Cicatrizes e flores, Músicas e marcas..

Entre. Entre tantos. Chegue, apesar dos entretantos.

Há caminhos..

Que não são paralelos..

São círculos permanentes...

E por esses, de qualquer jeito,

é por onde a vida vai”




Javier Fuentes

DEIXE-ME SER BURRO....

Não.

Eu hoje não sei a resposta

Qualquer que seja a pergunta.

Meu silêncio fala o que eu preciso dizer: nada.

Cansei de explicar meus pontos de vista

Cansei de interpretar aquilo que eu mesmo escrevi ou falei

Só para que alguém pudesse me entender.

Que não me entendam hoje então.

Hoje eu só quero andar por aí

Despretensiosamente.

Não sei nem se vai chover nos próximos 5 minutos.

Não quero saber o básico, o complexo ou o inusitado.

Deixe-me ser burro.

Explicar a vida ?

As religiões ?

A transformação do mundo físico e a transcendência dos planos ?

Sei não.

Só quero estar feliz.

Só quero ser generoso indistintamente.

Até para poder ser generoso comigo mesmo.

Se vida é a imperfeição permanente,

Fruto da inconstância irresponsável do Destino

Por que é que eu teria que ser diferente ?

Mudo, contradigo, desdigo e reafirmo.

Tanto faz.

Por que é eu deveria garantir para onde vamos depois daqui ?

De repente, nem vamos para lugar nenhum.

Acabamos. Do pó ao pó.

Hoje eu não quero explicar nada.

Nem quero certas respostas.

Ou quaisquer respostas.

Quero o silêncio. Perturbador e tranqüilizador.

Quero.



Javier Fuentes,

2009.